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OPINIÃO: Emoção de voar x medo de cair

Em janeiro, vivi com alguns amigos o desassossego de ter que fazer a opção por um curso superior via Sisu e constatei nestes jovens a vontade quase obstinada de acertar.

Por incrível que pareça, verifiquei que os avós foram os que mais ajudaram, pois muitos deles já tinham acompanhado o voo dos filhos, estavam reprisando o vivido, compreendiam a preocupação dos pais, sabiam que os netos irão viver, estudar e trabalhar em outros lugares, mas voltarão, bem como cantam Jorge e Mateus: "deixa eu voar, deixa dar saudade ... o coração vai reclamar".

Os pais, conscientes que deviam agir como a águia que, na hora do filhote aprender a voar, empurra-o gentilmente para a beira do ninho, aceleraram o coração com emoções conflitantes, ao sentirem a resistência dos filhos aos seus persistentes cutucões. Aqui surge a questão: por que a emoção de voar tem que começar com o medo de cair?

Essa pergunta vem da tradição da espécie, o ninho fica no alto da rocha, abaixo o abismo e o ar para sustentar as asas do filhote. E se não funcionar?

Apesar do medo, a águia sabe o momento. Sua missão termina com a tarefa final - o empurrão.

A águia toma coragem da sabedoria interior. Enquanto o filhote não descobrir suas asas, não haverá propósito para sua vida. Enquanto não aprender a voar, não compreenderá o privilégio de ser águia. O empurrão é o maior presente que pode oferecer-lhe.

Este supremo ato de amor faz o filhote precipitar-se do abismo e voar em direção do vir a ser! Byafra, em 1984, cantou assim: "Voar, voar, subir, subir, ir por onde for, descer até o céu cair ou mudar de cor... O ar eu sou assim, brilho do farol, simplesmente sol... Som sobre som. Bem mais, o que sai de mim vem do prazer, de querer sentir o que eu não posso ter, o que faz de mim ser o que sou, é gostar de ir por onde, ninguém for..."

Caro leitor, é possível que o destino tenha lhe empurrado a deparar-se com esta reflexão, ou talvez você mesmo tenha pulado de espontânea vontade na tentativa de aprender a voar em direção ao desconhecido. Qualquer que tenha sido a razão, este texto é dedicado ao poder ilimitado adormecido em nós, e a força que devemos fazer para não deixá-lo inativo, permitindo que desperte e nos leve, independente da idade, a alçar novos voos.

Então, nos cabe alimentar o pensar a se transformar em agir, e incentivar outros a fazê-lo, pois, neste mundo conturbado e incerto, o exemplo continua sendo a melhor maneira de influenciar no mundo. Isso foi cantado assim por Cesar Passarinho: "Não chora, menina, porque foram-se os cardeais, se cantavam, na prisão campo afora cantam mais, tanta gente, anda vagando sem saber onde pousar, mas as aves, só voando é que podem se encontrar, você ainda não sabe o que cabe nesta paz, quando a gente, abre as asas nunca mais".

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